Quando o Sol volta brilhar
Penso que o escritor do livro de Eclesiastes deve ter tirado uma soneca quando Deus colocou no seu coração um versículo que, infelizmente, ele não escreveu: há tempo para adolescer, e tempo para envelhecer.
A palavra envelhecer traz no seu conteúdo um sentido pejorativo de imprestabilidade e descartabilidade. Esquecemos e a sociedade também esquece que atrás daqueles cabelos brancos esconde-se vivência, sabedoria e, sobretudo… sonhos.
A marginalização, a exclusão, o despejo de idosos em casas de acolhimento, desalojam dos seus corações carentes e querentes, as esperanças mais remotas de sonhar.
A terceira idade clama, grita e espera pelo seu carinho e atenção. Os asilos estão cheios de idosos vazios, vazios de tudo, vazios de nada, vazios de Deus. Uma palavra de ternura, um gesto de amor, uma demonstração de afeto – coisas tão simples! – transfigurarão as suas vidas marcadas, sentidas e sofridas pela dor e o abandono. A noite dos seus instantes é mais escura do que a própria escuridão, porque as estrelas do seu céu não brilham mais.
Quando o sol volta a brilhar, os desencantos tornam-se encanto; a tristeza torna-se alegria, e ressurge das sombras um idoso que exclama com o Eclesiastes: “há um tempo para abraçar, um tempo para acolher, um tempo para amar”. E o sonho voltará. E ele será feliz.