Ser avó – Privilégio ou Responsabilidade?
As duas coisas: privilégio, pois ser avó é coisa muito boa. É ser mãe duas vezes. Segundo Salomão, “Os filhos dos filhos são uma coroa para os idosos…” (Pv.17.6). E ele tinha razão.
Nem todas as avós são velhas. Algumas tornam-se avós bem novas, como minha amiga Rute, que foi avó aos 36 anos. Mas esse detalhe não importa, pois nova ou com mais idade, ser avó é uma delícia. É a recompensa de Deus, prometida àqueles que temem ao Senhor: “Como é feliz quem teme o Senhor… Que o Senhor o abençoe… e veja os filhos dos filhos” (Sl 128.1,5 e 6).
Ser avó é ter o privilégio de curtir os netos. Enquanto criei meus três filhos, eu trabalhava em tempo integral como professora e, por mais que procurasse dar-lhes tempo e atenção, perdi muita coisa interessante de sua infância. Hoje, aposentada, posso curtir os netos em tempo quase integral, sobretudo as que estão perto de mim. Os que moram distante, posso visitar sempre e, então, a dedicação é exclusiva. Tenho podido acompanhar, descobrir, ouvir e presenciar fatos e experiências surpreendentes. Os netos contam mais com o tempo das avós do que tiveram os filhos.
Outro fator que nos dá prazer – a chegada dos netos em nossa casa. Diz-se por aí que “os netos dão duas alegrias – quando chegam e quando vão embora”. Não concordo. Para mim, quando eles irem embora me causa uma grande tristeza e enorme saudade. Mas compreendo o sentido da frase, pois netos em casa mudam muito a rotina e trazem alguma responsabilidade. Há exceções, mas no geral, os pais são os responsáveis pelos cuidados, educação, formação e correção dos filhos. Os avós complementam, em algumas ocasiões, não sempre. Alguns até dizem que os pais educam e os avós deseducam. Não é bem assim!
Uma terceira diferença é que, pela idade e pela experiência de vida, somos mais pacientes com os netos do que fomos com os filhos. Já ouvi alguém dizer que devíamos ser pais com a idade com que somos avós, pois na juventude, por falta de experiência, de outros interesse e ocupações, deixamos de lado a paciência e a mansidão. Com mais tempo, menos responsabilidades e muita paciência, podemos então ser felizes com os netos e curti-los bastante.
Ser avó é privilégio, mas traz consigo bastante responsabilidade. Uma é ajudar os filhos na criação dos seus. São raras as mulheres que, hoje em dia, não trabalham fora de casa. Felizes são as que podem contar com a vovó para ajudá-las. Muitas vezes sou solicitada a esclarecer alguma dúvida nos deveres escolares, ou ajudar na escolha de roupas para vestir. A acompanhar o cumprimento dos horários e das tarefas.
Já ouvi algumas avós dizerem que não querem se envolver em trabalhos com os netos, que já criaram os seus filhos e que agora cada um cuide dos seus. Não sou dessa tese. Para mim, cuidar dos netos, quando preciso, é sempre um prazer. Sinto-me rejuvenescida ao conversar ou brincar com eles. Isso é atualizar-se, acompanhar a modernidade, reciclar-se.
O privilégio mais caro ao meu coração de avó é o reconhecimento como pessoa amável e inesquecível. Quem não se lembra da casa da vovó? E da comida, dos biscoitinhos, dos bolos e doces sempre reservados, das especialidades que ela fazia como ninguém? Lembro-me até do perfume de alfazema que vovó usava…
Tenho na entrada de minha casa um quadrinho que diz: “Na casa da vovó tem carinhos, beijinhos, biscoitinhos, historinhas e muita bagunça…” É verdade, BAGUNÇA! Os netos fazem muita bagunça na casa da vovó, mas até dessa bagunça eu gosto, se esse é o preço de tê-los por perto.
Ser avó também traz responsabilidade, por, até sem perceber, exercermos influência na vida dos netos. Ensinando, estamos influenciando na formação de seu caráter e de valores; até quando nos divertimos com eles, nossa postura e linguajar estão sendo observados e assimilados. Conosco eles aprendem a dar valor à família, quando lhes falamos a respeito do nosso passado, de sua árvore genealógica, mostramos-lhes fotos de seus antepassados e transmitimos-lhes tradições familiares e culturais. Posso garantir que toda criança, e até os jovens, gostam disso.
Outra responsabilidade que sinto como avó, é de transmitir aos netos também e, acima de tudo, a fé cristã. Desde o embalo ao som de hinos e cânticos, como com histórias bíblicas, oração e testemunho de vida. É bíblico. Esse dever de pais e avós está bem claro no Salmo 78. Não foi sem razão que Paulo, recordando a Timóteo a sua fé, mencionou antes da mãe Eunice, a avó Loide. Fé para gerações é nossa responsabilidade.
Entre privilégios e responsabilidades, há um cuidado a tomar – não se exceder. Respeitar os limites existentes entre ser mãe e ser avó, sobretudo quando os pais estão presentes.
A recompensa vem em forma de bilhetinhos, desenhos, presentinhos feitos por eles, as florezinhas colhidas no mato, beijos e carinhos. Vem com adolescentes, jovens e adultos bem formados, realizados e úteis. Tudo isso coroado pela bênção de ser chamada VOVÓ.